Entenda o que pode causar alergia alimentar

Alergia alimentar: sintomas e como identificar o problema

A alergia alimentar é uma reação adversa, que ocorre quando um indivíduo é exposto a um determinado alimento que o seu organismo rejeita. Camarão, ovo, leite e amendoim são os alimentos alergênicos mais conhecidos, mas existem diversos outros, muitas vezes inusitados e em menor incidência, como é o caso do kiwi, gergelim e até mesmo mandioca.

Além de uma gama variada de alimentos com potencial alergênico, a doença pode ocorrer de diversas formas. Para entender melhor sobre esse universo, conversamos com a nutricionista e professora Ana Carolina Port.

 

Alergia alimentar: saiba o que é 

“A alergia alimentar ocorre quando uma pessoa ingere alguma substância que o organismo entende como um patógeno, algo que está nos agredindo fisicamente, ativando nosso sistema de defesa”, explica a nutricionista. Dentro das alergias alimentares, existem três tipos: mediadas por IgE (imunoglobulina E), as não-mediadas por IgE e as mistas. Conheça cada um delas: 

 

Alergia alimentar mediada por IgE é aquela em que as reações acontecem quase de imediato

“Esse tipo de alergia acontece quando a pessoa consome algum alimento e, quase imediatamente ou em até até duas horas, tem o efeito adverso. Nesses casos, as reações são muito rápidas e perigosas. Os pacientes com esse tipo de alergia podem ter choque anafilático, que é a forma mais grave de reação de hipersensibilidade, quando há o inchaço da região da glote, fechando o canal respiratório na garganta, podendo causar asfixia e morte”, detalha a nutricionista.

 

Sintomas da alergia alimentar mediada por IgE

  • Sintomas cutâneos: vermelhidão, coceira, inchaço; 
  • Perda de respiração, tosse, espirro.

“Por um lado, essa alergia é muito perigosa e os pacientes que têm esse tipo de alergia precisam sempre ter disponível injeções de adrenalina junto a eles, para serem utilizadas em caso de contato acidental com o alérgeno. Muitos desses pacientes também utilizam sinalizações em forma de colar ou pulseiras, advertindo sobre suas alergias para que possam ser socorridos com mais rapidez.

Apesar da gravidade, esse tipo de alergia acaba sendo mais fácil de ser diagnosticada já que, por ter uma reação quase imediata, fica mais “visível” identificar o alimento que causou a reação. Além disso, essa alergia também é possível de ser diagnosticada através de exames de sangue com avaliação das IgE específicas para cada alérgeno”,  explica Ana Carolina. 

 

Alergia alimentar não-mediada por igE: pode surgir até três dias depois do contato com o alimento

“As alergias não-mediadas por igE podem causar reações até três dias após o contato com o alimento. ​São de diagnóstico muito mais difícil e tem como principal ferramenta o 'Teste de Provocação Oral - TPO', em que o paciente tem a restrição alimentar de um ou mais alimentos suspeitos por quatro semanas ou mais e depois, dentro do consultório de um médico, recebe um pouco do alimento suspeito para observar suas reações”, detalha a nutricionista. 

Ana Carolina ainda explica que é importante que o paciente que suspeita de uma alergia alimentar deste tipo faça um registro de todos os alimentos que consumir e os sintomas que sentir para ser melhor avaliado. "Nestes casos, também é possível ocorrer o que chamamos de hipersensibilização, em que o paciente pode ter reações alérgicas a alimentos que não necessariamente tem alergia, e por isso precisa ser acompanhado por um profissional especializado para ser melhor orientado".

 

Sintomas da alergia alimentar não-mediada por igE

  • Manchas vermelhas na pele;
  • Coceira;
  • “Em bebês, pode causar irritabilidade, refluxo, sangue nas fezes, dificuldade de absorção e deficiência de crescimento”,  exemplifica a nutricionista

“Os sintomas desse tipo de alergia podem ser difíceis  de diagnosticar e comumente podem  estar associados a outras substâncias", explica Ana Carolina. 

É importante frisar que o diagnóstico da alergia alimentar deve ser sempre feito por médico especializado e acompanhado por nutricionista. Além disso, deve ser realizado em ambulatório para casos de reações graves.

 

Alergia alimentar mista: quando as reações podem ser imediatas ou tardias 

A nutricionista explica que há episódios de pacientes que apresentam alergias imediatas e tardias para um mesmo alimento e que ainda existem alergias que se apresentam apenas após esforço físico. “Às vezes, a pessoa nunca teve alergia a esse alimento, mas depois de algum esforço físico, ela apresenta essa reação e pode ficar vermelha, ter coceira e irritação, por exemplo. Nestes casos, o médico especializado  sempre fará observações sobre os esforços físicos realizados antes das reações alérgicas e eventualmente pode até solicitar testes ambulatoriais que incluam exercício físico e consumo do alimento suspeito após esta atividade para o diagnóstico”,  detalha Ana Carolina. 


 

Qual o tratamento para alergia alimentar? 

 Ana Carolina explica que o tratamento varia de acordo com o tipo de alergia. Para a alergia relacionada ao exercício físico, quando diagnosticada, o paciente deve apenas deixar de consumir o alimentos quando realizar algum esforço, que pode ser até mesmo situações corriqueiras, como carregar alguns materiais mais pesados, brincar de maneira mais ativa ou algo similar.

Já para as alergias mediadas e não-mediadas por IgE, o paciente deve excluir totalmente esse alimento da sua alimentação, inclusive derivados. “Para esses casos, também é importante atentar-se à contaminação cruzada, em que pequenas quantidades do alimento alergênico podem estar presentes em alimentos que originalmente não teriam esta substância. Esses pacientes precisam ter cuidados com utensílios compartilhados com outras pessoas, especialmente plásticos. Para exemplificar: um paciente com alergia amendoim jamais poderá utilizar o mesmo liquidificador em que outra pessoa processou amendoim, mesmo que lave vigorosamente, pois quantidades invisíveis de amendoim ainda permanecem no copo do liquidificador e podem causar as reações alérgicas. É importante até mesmo que o paciente alérgico tome cuidado com seus utensílios utilizados para lavagem, como as buchas e sempre utilize estes utensílios apenas para si, para garantir a não contaminação. Além disso, também deve-se ler o rótulo dos alimentos, até mesmo de cosméticos e medicamentos e certificar-se de que não tem nenhum resíduo do alimento que causa alergia”, destaca a nutricionista. 


 

Conheça os seis alimentos alergênicos  mais comuns

Proteína do leite de vaca:  “A alergia é à proteína do leite, conhecida como APLV. Atualmente, é a mais comum e acomete principalmente crianças de até dois ou três anos de idade, podendo causar alergias dos três tipos citados. Importante ressaltar que essa alergia é diferente da intolerância à lactose, que é outro tipo de reação adversa, que causa sintomas menos graves e pode ser tratada com suplementação de lactase”, detalha a nutricionista; 

Ovo: "Existem pessoas com alergia só à gema ou à clara, mas normalmente é ao ovo inteiro. Importante lembrar que muitos suplementos e alimentos contêm a proteína albumina advinda do ovo e os pacientes com esta alergia devem ficar atentos a isso”, explica Ana Carolina;

Soja: “essa alergia também é muito comum e com maior incidência na infância. Pode ocorrer concomitantemente a outras alergias, como a ao leite ou ao ovo”, explica a nutricionista;

Trigo: “a alergia ao trigo é causada pela ingestão de alimentos com trigo ou sua proteína. Muitos confundem com a doença celíaca, que é uma reação imunológica diferente da alergia e é causada pela ingestão de glúten, que está presente em outros alimentos além do trigo, como a cevada”, explica Ana Carolina;

Amendoim: “é mais comum nos Estados Unidos pelo alto consumo de pasta de amendoim nessa região e a prevalência maior é de reações mediadas por IgE, que costumam ser mais graves e imediatas”, destaca Ana Carolina;

Frutos do mar e crustáceos: “camarão, peixes e frutos do mar, assim como a alergia

ao amendoim, também costumam ser mais frequentemente mediadas por IgE e causam reações mais imediatas, e até mesmo asfixia. No caso dessas alergias, é muito importante avaliar suplementos e medicamentos pois muitos desses produtos contém derivados desses alimentos, como é o caso de vários suplementos de cálcio, que contêm derivados de crustáceos”, finaliza a nutricionista Ana Carolina Port. 

 

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